O sono bate no meio de uma matéria sobre cabelos. Me levanto com as
costas doendo, pego a cafeteira, coloco o filtro, uma colher grande de pó de
café (que sempre cheira melhor do que o café em si) e encho a medida para 4
xícaras, que na realidade, só dá metadinha de uma caneca. Espero a máquina
soltar o líquido preto, olho pro cachorro branquinho que late do outro lado da
rua todo feliz, despejo o conteúdo único da cafeteira e volto pro quarto
arrastando os pés. Ligo o Ipod e bebo o primeiro gole.
Dá pra contar até uns 120. Tá, na verdade eu nunca contei quanto demora, mas
tem um tempo que eu já percebi que é o meu. Segundo a Associação Brasileira da
Indústria do Café (ABIC) leva, em média, de 20 a 30 minutos para a cafeína agir
e fazer todo aquele estrago bom que conhecemos no cérebro (e provavelmente nos
dentes também...). Não quero contrariá-los, mas na minha cabeça, bate
diferente, num tempo que, depois de tantos anos tomando café, só percebi
agora.
A real noção da minha nova rotina veio assim: na descoberta de quanto
tempo leva para o café fazer efeito. E é um exercício de paciência e confiança
que eu nunca tive. É só tomar, esperar o tempo certo, sem ansiedade, e ver a
nuvem ir embora lentamente dos meus olhos. Não é preciso cochilar a tarde no
sofá, juro.
Antes eu pedia um café na lanchonete, subiu esbaforida pra redação
tomando golinhos dentro do elevador e engolia o resto sem prestar atenção,
enquanto escrevia mais um pedaço de qualquer matéria, na pressa de ir logo
escovar os dentes. Seis anos assim. Sem prestar a mínima atenção no café em si,
só regando o hábito de “tomar-café-depois-do-almoço-pra-não-dar-sono”.
Com certeza dava certo, claro que sim. Mas aí, perto dos 30 anos, você
descobre uma obviedade dessas e sente vergonha por ter vivido tanto tempo como
um zumbi. Não, não... eu sei que não é preciso ter mandado tudo pro inferno
para deixar de viver anestesiada. Agora escrito assim na tela até parece mesmo
meio clichezão, meio coisa de Facebook no fim da tarde. Acho mesmo que eu é que
estava caipirona, melindrosa da vida e das pessoas aqui do lado de fora (AQUI
do lado de fora, não mais LÁ do lado de fora).
Uma vez fora, a insegurança bate como vento antes da chuva. Mas já sem
medo de se molhar, você não liga mais pro tempo ruim.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Sou eu
Longo Caminho. Jornalista por formação, mãe por escolha, viva por persistência.
0 comentários:
Postar um comentário