4/25/2013 07:52:00 AM

Pijamas

Por Fernanda Tsuji |

Hoje eu não acordei. Quer dizer, acordei, vesti os chinelos, levei o Gabo pra passear, tomei chá com biscoitos, mas até agora não despertei. Acho que faz desde segunda que eu não levanto da cama. Ou melhor: levantei, escrevi matérias, cozinhei, brinquei com o cachorro, jantei com meu irmão, discuti e afaguei o B, mas ainda estou dormindo. Perdida, andando em um sono pesado e tentando despertar. Sonâmbula.


Lembro de acordar um dia no Guarujá, quando era pequena, e ver a minha mãe no final do corredor. Ela me fez sinal de silêncio com os dedos e me chamou pra ver. Meu irmão, que sempre teve crises de sonambulismo, estava sentado na sala lendo gibis de olhos fechados. E já tinha lido vários, tamanha a pilha de um lado e a cesta de revistas vazia do outro.

Fico tentando acordar logo, mas o máximo que consigo é ficar me debatendo no escuro.  O despertador não toca, deve estar fora da tomada. A vontade e a pulsão de sair pra rua, que é o que me move sempre, fica tiquetaqueando fraquinha no fundo de algum lugar. Tum-tum-t....

E eu fico me esgueirando num pedacinho de sol que entra pela janela, tentando me manter aquecida, enquanto não desperto. Me pergunto se isso é falta de ver pessoas, de conversar, de me irritar. Mas não. Faz só alguns dias que tive duas festas de aniversário animadas, que conversei por horas com a amiga preferida, que ganhei um cachorro feliz.

O sono forma nuvens densas nas minhas lentes de míope e eu tenho sono. Mas se me deito, não durmo. Fico de olhos abertos e anestesiada. Meu corpo não está cansado, minha cabeça está bem em cima dos meus ombros. Tenho o que desejei tanto há um ano. E agora, bem agora, bateu um sono que me impede de estar aqui. Caminho sem ruído em algum lugar com muita luz e sem vento. Atracada em algum cais bem longe.
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Ontem, antes de deitar na cama, me lembrei do saguão do aeroporto do Canadá. Tinha muita neve do dia anterior e como o teto era todinho de vidro, o sol batia no gelo e deixava tudo extremamente claro. Encontrei minha sala de embarque e como ainda tinha mais de 4 horas até meu voo, peguei um café, comprei um pocket book e fiquei sentada sob o sol forte que entrava pelo vidro. Não tinha ninguém ao redor e eu só fiquei ali. Um tipo de tranquilidade rara de quem sabe que vai pra algum lugar, mas que tem uns minutos permitidos pra ficar sentado ao sol.

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