11/05/2010 03:03:00 PM

No tempo do Bozo

Por Fernanda Tsuji |

Eu fico tentando me achar em cada livro que leio, em cada frase de novela, em cada cena de filme ruim. E nos bons também. Porque tem horas que dá uma canseira enorme me organizar em palavras e pensamentos coerentes e só queria que alguém dissesse: olha, Fernanda, é assim. Na maioria das vezes sou eu que digo pros outros. E a vida de jornalista não colabora. Você tem uma ideia de pauta, reúne material, entrevista, seleciona foto...junta tudo e organiza em corpo de matéria, Box e legenda. Mastigadinho. A coerência me cansa, mas me ofendo quando vejo algo fora do lugar.


E quebrar padrão é o mantra do agora. Tá, sempre foi. Difícil pensar quando é que eu estive tranquila. Eu deveria não ter sentido mais vezes. Rir mais de mim. Acho que a última vez foi quando ganhei a barraquinha do Bozo e fiquei o dia todo dentro dela, fantasiada com aqueles óculos que vem com bigode grudado, sabe? Faz apenas 24 anos. Fez sucesso na época. Poderia fazer de novo agora. Ei, estamos na era dos bigodinhos irônicos, não?


Fato é que eu ando aplicando meu poder de organização mental para tudo. Chego cansada à noite, abro a geladeira e junto os ingredientes todos mentalmente formando a receita do dia. Fica muito bom na maioria dos dias e não requer esforço nenhum. No dia seguinte, o mesmo esquema para a agenda do dia: médico na Paulista...oba, dá para passar naquela loja e ainda chegar a tempo no trabalho, pedir a imagem para a matéria de beleza, fazer o resumo e almoçar no shopping. Tudo naturalmente esquematizado. Tenho talento pra isso. Acho que os anos me dividindo em várias pra dar conta das minhas duas famílias (que agora são três) fez com que minha mente já trabalhe no modo “scrabble” automaticamente.


Se cansa? Vou responder dando uma deitadinha ali no sofá. No próximo natal, já sabe: óculos com bigodes grudados. Vou esperar ansiosamente.

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