1/13/2011 05:37:00 AM

Comida fresca

Por Fernanda Tsuji |

Eram quase dez horas da noite, quando eu resolvi cozinhar costelinhas. Lembrei que estavam no freezer há bastante tempo e que, com a dieta de carne branca que nos acostumamos, não teria outra chance de ver a panela. Como ele estava viajando, resolvi descongelá-las. Enquanto estavam no microondas, eu cortei cebolas, tomates e batatas. Coloquei tudo dentro de uma panela de pressão com um pouco de óleo e fritei até dourar. Temperei as costelinhas com limão, sal, semente de mostarda e shoyo.

O som da tv distante me lembrava que já era a hora da novela e exatamente 7 horas que não comia nada. A carne foi pra panela com os vegetais e ganhou uma dose de cerveja. Tudo inventado da minha cabeça e da minha geladeira. Corajosa que sou, fechei a panela de pressão e enquanto me assustava a cada “shushushu”, me dei conta de como já cozinhava e cuidava da minha casa como se sempre tivesse feito isso. Nunca ninguém me ensinou de fato a cozinhar. Eu ficava na beira da pia observando minha mãe, minhas avós, minha tia, minha sogra. Cozinho como se sempre tivesse feito.

Em tempos de comida congelada e dieta, podia ser maluquice fazer costelinha pra uma pessoa às 22h da noite. Mas me pareceu ser o que eu deveria fazer por mais complicado que fosse, por mais cansativo que tivesse sido o dia. Me pareceu...certo, sabe?

Lavei o arroz na medida certa pra uma tigelinha e me sentei na minha sala. Minha sala. Antes de mudar parecia que eu estava atrasada pra sair de casa, parecia que já devia ter acontecido antes. Mas ali, segurando meus joelhos, eu entendi que veio no momento certo. E eu não sou dessas que acredita em destino, você sabe. Eu forço, me esforço, reforço, mas no fim, dei o braço à torcer. O tempo não existe, ele só é. Ninguém ensina.

Abri a panela com cuidado, tirei todos os ossos e fiquei satisfeita com a carne macia, brilhante e suculenta. Cozinhei mais um pouco com a tampa aberta, enchi uma tigelinha com arroz e sem culpa nenhuma, sentei na frente da tv pra comer. Parecia condenável, contra tudo que a gente lê nas revistas... mas estava tão bom, tão....confortável.

É maluquice fazer costelinha às 22h. Mas também não é considerado piração nos tempos de hoje, amar, comprar móveis e juntar dinheiro na poupança? Meus amigos acham. Eu acho que é o caminho natural, ainda que custoso, ainda que exija esforço. Mas o resultado é tenro e feliz. Dispenso comida congelada .

0 comentários: