Tinha algo de bonito ali, mas não era nítido. Era uma história, mas não era de amor. Talvez fosse o cheiro de pastilha de hortelã e cigarro, talvez fosse o jeito que ele ria dolorido, como se estivesse se divertindo em ver a própria desgraça. Ele não sabia que era um menino triste. Ele não sabia quem era, mas ela sabia bem.
Nas tardes quentes, ele a convidava para ir pra lá. Fechava as janelas do quarto abafado, ligava alguma música óbvia que falava sobre mar, tiravam as roupas e ficavam deitados na cama como se já tivessem feito isso muitas vezes. Mas era sempre a primeira vez, sempre tinha gosto de novo. Ninguém precisava saber. Depois acendia um cigarro, puxava bem fundo a primeira tragada e provocava ela onde sabia que doía mais. Nele. Ele sabia que ela não iria ficar, que tinha mais o que fazer da vida, por isso, sugava cada segundo como se fosse a última vez. E a primeira. Sempre a primeira. A saudade antes da partida.
Ele queria ela ali de verdade, por isso era tão difícil deixá-la preencher os vazios. Dizia que precisava fazer algo, mais tarde ligava e sem dó, a mandava embora. Depois ficava contando os minutos até ela chegar em casa e ligava assim que ela passava pela porta. “Você esqueceu seu casaco aqui. Agora vai ter que vir buscar”. E ela ia - oh! - fingindo surpresa.
Eles brincavam que ele não gostava dela, que ela gostava dele, que ela não iria embora, mas ambos sabiam que logo ela partiria. O jogo já tinha acabado no dia que começou. E era 0 x 0. Um clássico.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Sou eu
Longo Caminho. Jornalista por formação, mãe por escolha, viva por persistência.
1 comentários:
Lembranças da adolescência, estão sempre pairando sobre nós, né?
Eu também voltei a escrever no blog, e o assunto adolescência também está no meu texto. Juntas, pela volta dos blogs!
Postar um comentário