Gosto do que as pessoas enxergam em mim sem que eu diga. Hoje meu professor de canto veio com uma música nova, que segundo ele, é a minha cara: Drive my car. Ele não sabe nada da minha vida e não teria como saber que eu estou numa fase totalmente Paul McCartney e que dias antes o B cantarolava pra mim "Baby you can drive my car/ you know I'm gonna be a star". E pra ser sincera, eu também não sabia que música era essa até pouco tempo atrás. O engraçado é que estou numa fase em que The Beatles me fazem sentido em tudo. Nas letras, na feiúra engraçada do Ringo, nas piadinhas inocentes do George, na ingenuidade bonita mascarada de pretensão do John e no otimismo do Paul.
Principalmente no otimismo do Paul.

Don't let me down


Don't let me down


Don't let me down


Don't let me down

Eu sempre achei que eu era pessimista. Quando era adolescente e parece incrível, mais isto já faz mais de dez anos, estava na moda ser pessimista. Só pode ser por isso. Porque quando eu penso em toda a minha vida, eu vejo que sempre fui uma criança otimista. Sempre achava que se o dia anterior tinha sido ruim, bastava dormir e no dia seguinte tudo seria melhor. Mas foi na adolescência que tudo ficou borrado. Acho que intensificava o drama e todos aqueles pensamentos que só fazem sentido quando você ainda recebe mesada e acha punk rock a melhor música do mundo. É, é só pensar que nada vai dar certo na vida, porque assim você se sente menos culpado se não passar no vestibular, não arrumar um emprego...

You say you want a revolution


Well, you know


We all want to change the world.

Hoje eu não acho mais cafona ser otimista. Gosto de ter a certeza que o dia seguinte vai ser bom, que eu vou melhorar e entender melhor o dia que passou quando ele tiver acabado. Hoje por exemplo, foi uma merda. Não dormi outra vez e os cochilos foram sonhos ruins. Acordei me sentindo desanimada como há tempos não sentia. No ônibus, encontrei com a moça cadeirante que ajudo quase todos os dias a atravessar a rua e ela discutia com o cobrador. Ele estava reclamando pelo fato de ter que levantar a cadeira dela pela escada, já que não era um ônibus adaptado para deficientes. Irritada, ela engrossou com o sujeito e ele, emburrado, baixou o tom e ficou dando justificativas engraçadinhas para amenizar a sacanagem que tinha dito. Mentirinhas pra si mesmo pra não parecer mais idiota do que já estava parecendo diante de todos os passageiros. Quando descemos do ônibus, a moça comentou da grosseria do cobrador, mas logo esqueceu e começamos a falar sobre a cor do esmalte que ela usava. Verde. Demos risada e isso mudou meu humor. Resolvi dar uma chance do dia ser diferente e me esforcei (like hell) pra que não caísse na zona de conforto da tristeza. Melhorou.

And don't you know that it's just you.


Hey Jude, you'll do,


The movement you need is on your shoulder.

Você acredita que pode mudar algo em você que te acompanha há muito tempo? Eu não acredito muito. Acho que a gente se engana pra agradar aqui ou ali, mas no fundo tudo continua remoendo por baixo da roupa. Só acredito em uma coisa: esforço. Mudanças radicais são mentirosas. O que funciona pra mim é o dormir num dia e acordar melhor no outro, que eu te dizia ali em cima, sabe? É o tentar ser melhor. Mas não o melhor-campeão, só o melhor-mais-feliz. (E eu não era feliz sendo a menina difícil sempre ).

Take a sad song and make it better,


Remember to let her under your skin,


Then you'll begin to make it all better, better, better, better...

Eu ainda me divirto pouco, ainda preciso ficar me lembrando do que não posso esquecer, me cobro, me culpo, me sinto só, me entristeço pra caramba (e por nada)...mas isso faz parte do meu esforço. E tudo bem. Amanhã estou sempre melhor.

Na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na....
 


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