10/16/2009 07:49:00 PM

Cores primárias

Por Fernanda Tsuji |

Amor, bola, peixe dourado. Presta atenção, são só palavras. Assim como o tempo é só pontinho no relógio. Assim como gosto são só referências, como o presente também é passado-futuro. Estou cansada de gritar, então vou falar baixo. Volume também é medida desnecessária, porque não existe essa coisa de medir, compreende? Existe o observar e contar pro outro: olha, o que eu vejo é isso. E só. O resto é querer controlar para saciar o ego. E eu caio nessas armadilhas todos os dias. Aí corro muito, ticando os itens da minha lista, porque busco sentido em cada um deles. Que se parar, o que me resta? O mesmo que resta a você, à sua mãe e ao cara controlando o acelerador de partículas. Nada.


E quando tudo ao seu redor parece tão cínico é porque quem passou do ponto foi você. Quando você já desdobrou o amor em uma quantidade infindável de desilusões e expectativas suas e dos personagens dos livros e filmes que você viu, aí...bem, aí, desculpa, mas você não sabe mais onde está.Talvez seja melhor voltar ao início e partir colorindo com o amarelo, o azul e o vermelho. Até encontrar de novo as infinitas matizes de roxo. Gostando do púrpura, resolvo voltar ao começo, porque sabe, já ficou colorido demais e eu nem enxergo o contorno.

Amor, bola, peixe dourado. Entre desiludida e deslumbrada, tem dias em que eu só queria ser poeira. Viva, parte de tudo aquilo que já sou, mas pairando. Sem ter que explicar pra onde estou indo e porquê. Taí, o que me mata são as explicações, o sentido neurótico que cada passo tem que ter. Não acredito mais puramente em quase nada. Tudo me parece simulacro. E o real fica ali escondido no piscar de olhos sincero. Como num clipe ruim dos anos 90. Tá vendo, cínica. Cínica e cheia de exemplos.
Talvez seja cansaço, talvez devesse dormir. No dia seguinte tudo recupera o sentido rápido, quase organicamente. Aquela proteção invisível que você chama de destino, ele diz que é natureza e os menos curiosos, apelidaram de Deus. Tudo continua como se estivesse protegido. Como a mulher que dá a luz não se lembra da dor real do parto ou nunca mais teria filhos... e ei, que problemão seria pra humanidade, não? Como quando você ama de novo e sempre pensa que vai ser diferente desta vez.
As cordas sendo puxadas, empurradas, invisivelmente levando pra onde se deve ir. Entende por que eu quero ser poeira? Uma poerinha covarde que não precisa se transformar em barro, sabendo que vai voltar a ser poeira quando o sol secar. É que simplesmente não importa. No fundo, são só nomes, conceitos, pretensões, prestações e frustrações. É belo, é triste, é transformador. Não, não é. Sempre esteve ali, ali sempre vai estar.
Acredite, mesmo quando você não está olhando, a folhinha cai da árvore.

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