Todas as manhãs, entre escovar os dentes e pentear os cabelos, eu escuto a vizinha do lado esquerdo chorar. Todos os dias ela discute ao telefone com o ex marido que a deixou no ano passado, fugido com a empregada. “O que você esperava de mim?” ou “como você pode?”, são dúvidas perdidas entre os soluços. E ao mesmo tempo que não tem como não ouvir, porque vem alto e bom som, eu não quero escutar. Tampo meus ouvidos, porque me deixa agoniada e triste.
Ela é meio amalucada, é verdade, com seus 20 gatos, 3 cachorros e gritos ao léu, mas não sinto o mínimo prazer em vê-la chorar.E, acredite, ela se acaba, coloca o rádio pra tocar, grita com os gatos (que fogem todos pra minha casa). E dá-lhe boleros tristes! O cheiro de cebolas fritas e arroz sendo refogados pra janta me fazem pensar que ela melhora no decorrer das horas, mas aí no dia seguinte, pela manhã...
E de madrugada, quando espio pela janela, lá está ela, sozinha no escuro, rodeada de sombras e aguando as plantas no quintal.
Obs: e ela é terapeuta.
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Sou eu
Longo Caminho. Jornalista por formação, mãe por escolha, viva por persistência.
2 comentários:
Deve ser namorada do terapeuta Dr. Kosseritz das historias de Wood&Stock, ahhahaahahahahahaha
Credo, que horror. Isso é que é gostar de sofrer.
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