Lembro que quando fazia terapia, a primeira semana foi devastadora. Meu nariz quase caiu de tanto assoar. Depois, na segunda e na terceira, já estava inventando novos problemas pra contar. Durou só 2 meses, mas foi o bastante para perceber que eu estava sendo dissimulada demais e cínica o bastante pra não levar a sério. Não sei se foi auto-sabotagem. Não sei se fiquei constrangida e não confiava muito nos óculos meia-lua da terapeuta. Mas notei que meu objetivo não estava sendo contar pra ela com sinceridade , mas levá-la a crer algo sobre mim. Ou seja, não deu.
Aí, ontem, vendo In Treatment (um achado do B, que agora virou um vício) me dei conta de que não sou especial. Todo mundo faz isso. A gente inventa em cima do pouco que lembra e com isso, enche as memórias de ruídos para que elas sejam justificativas do que somos agora.
Quanto à isso, me declaro culpada, mas faço uma mea culpa: eu realmente me lembro de muita coisa. Coisas que impressionam meus pais até hoje. Eu não esqueço e talvez isso seja mais uma maldição do que um dom.
A série, conduzida com maestria impressionante por Gabriel Byrne, mostra a cada dia da semana, o encontro do terapeuta com o paciente. Dura o tempo de uma sessão e quase não tem cenas fora do consultório. Portanto, não espere nada com ação e impetuoso. É apenas o consultório, o paciente e o terapeuta. Simples assim e por isso, tão infinitamente dolorido. E o mais bacana é que, exatamente por isso, os atores precisam se desdobrar. Porque não tem pirotecnia. É só uma câmera no rosto e eles tem que ser muito bons pra segurar.
A cada dia da semana, você acompanha uma história e na sexta, é o próprio terapeuta que vai para o divã. E em todos os casos, a culpa é sempre dos pais. Consciente ou inconscientemente. Adivinha se não mexeu comigo? Repenso se quero ter filhos.
Mas aí, claro, me convenço que sim, quero ter filhos. Afinal, entre erros e acertos, a gente sempre pensa que faria diferente. Mas será...?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Sou eu
Longo Caminho. Jornalista por formação, mãe por escolha, viva por persistência.
1 comentários:
Bah, quero muito ver In Treatment. Fiquei com mais vontade ainda agora.
Postar um comentário